quinta-feira, 27 de novembro de 2008

UMA COISA DE CADA VEZ




Certa vez, muito intrigado, um discípulo abordou seu velho mestre:
- Como o senhor, de idade tão avançada, parece ainda mais novo que nós? Como pode estar sempre tão bem disposto e alegre?
A resposta veio em seguida, mas naquele tom calmo, comum aos sábios, ondulante e com todas as pausas:
- Quando eu como, eu como. Quando eu durmo, eu durmo.
Essa pequena história, nos dá pistas para investigar um tema que muito nos interessa nos dias de hoje: a dificuldade que temos ao tentar fazer uma coisa de cada vez.
O homem é um ser explorador por natureza. Graças a essa característica espalhou-se pelo planeta, povoando todos os continentes. No entanto, a mais importante das explorações do homem deveria ser a exploração de si mesmo, do seu mundo interior e espiritual. O "conhece-te a ti mesmo" encontra apoio na psicologia moderna, que deseja um homem autoconsciente, equilibrado, senhor dos próprios pensamentos e do próprio destino.
A exploração interna, entretanto, tem estado em crise. Informações, tarefas, cobranças, desejos, ofertas; temos tudo em excesso. Não dá tempo para olharmos para dentro, porque temos muito aí fora para olhar.
Além disso, a vida moderna às vezes faz exigências paradoxais. Aquelas que, quando você atende a uma, não pode atender à outra. Manda você estar ligado a todos os assuntos ao mesmo tempo, "antenado", "plugado", "conectado", mas também manda você ser calmo, sereno e criativo. E dá pra ser tudo isso simultaneamente?
Engraçado se pensarmos, por exemplo, na respiração. O correto seria respirar fundo, mas para tanto, é preciso baixar seu diafragma. O que isso tem a ver? Bom, pra respirar fundo é preciso agir assim, mas o mundo manda você respirar fundo, estufar o peito e encolher a barriga. Outro paradoxo.
O principal de todos os conselhos "modernos" que costumamos receber, e às vezes dar, é que devemos ser "multimídias" - fazer várias coisas, ter diversas habilidades, usar muitos canais de comunicação, mudar de atividade continuamente. Os seres multimídia queixam-se, entretanto, de algumas dificuldades:
É necessário ser especialista e generalista ao mesmo tempo.
Lidar com o volume de informações que, se por um lado são o oxigênio da maioria das profissões, são intoxicantes em função do seu excesso.
Fazer várias coisas ao mesmo tempo com a mesma qualidade obtida em tarefas de dedicação exclusiva.
Multiplicar o tempo, que parece cada vez mais raro e que escorre entre nossos dedos.

O homem moderno tem de parar e pensar. Perceber que rupturas não são modernas, mas novas propostas, sim. O moderno sente o presente, olha para o futuro e utiliza o passado como ensinamento. O moderno não despreza o que a humanidade pensou, escreveu e produziu nos últimos seis milênios e sim adapta esse legado à atualidade.
De repente, você se descobre em um mundo com muita atividade, muita informação, muita exigência e pouco tempo. É uma combinação explosiva, cujo resultado pode ser representado por produtividade baixa e estresse alto. A não ser - felizmente sempre há um "a não ser" - que você se organize e não apenas em termos de agenda, mas em termos de qualidade mental. A primeira lição: o cérebro trabalha melhor quanto mais focado estiver. Concentração é sinônimo de qualidade.
A arte das varetas pode estar ultrapassada, mas ainda nos ensina muito como viver. Então para aprendermos cada vez mais, segue uma lição:

Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!
Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar porque ninguém é de ferro!

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