segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Publicar, Chocar e Esquecer

Ultimamente tenho refletido um pouco quanto à profissão que, no alto dos meus dezessete anos escolhi. Na época, como todos imagino, convivi com muitas dúvidas e, hoje em dia, não me imagino fazendo outra coisa. Jornalismo é de fato uma paixão e, se não parecer piegas, é sim vocação.
Partindo do princípio em que vivemos em um país onde escândalos são insistentemente estourados pela mídia - sejam eles políticos, sociais, noveleiros (permitam-me o neologismo), e etc. – conclui-se que tragédias e tragicomédias tornam-se assim espetáculos que acabam tratando genuínas pessoas como personagens.
Comecemos pelo caso do menino João Hélio Fernandes, de seis anos, que preso pelo cinto de segurança, foi arrastado por sete quilômetros após um assalto. Inicia-se o processo: publicação da notícia, a população se choca, organizam-se passeatas em nome da paz, seus pais concedem entrevista ao Fantástico. Izabella Nardoni, também de seis anos, é jogada pela janela do prédio em que o pai e a madrasta moravam. Talvez mais chocante que o primeiro aqui listado, afinal o pai era/é o principal suspeito da barbárie. Porém, a ordem continua a mesma: publicação da notícia, choque da população, manifestação popular, e, a mãe é entrevistada no Fantástico.
Mais recentemente o caso Eloá Cristina garantiu os horários nobres e os nem tão nobres assim. Foi mais um caso passional que, glorificado pelos meios de comunicação, serviu de inspiração para outros loucos como Lindemberg, bem como as roupas usadas por Bebel na novela das oito tornaram-se objeto de desejo das mulheres. Só há modificação no procedimento pelo fato de o pai da menina de quinze anos ser foragido da polícia, e assim sendo, não deu entrevista ao Fantástico. Por último, é encontrado o corpo de uma menina de nove anos dentro de uma mala na rodoferroviária de Curitiba. Era Rachel Maria Lobo de Oliveira Genofre. Mais uma vez: publica-se, comove-se, dá-se entrevista ao Fantástico.
É triste saber que o dever nobre do jornalista de informar, tenha se tornado a missão cruel e patética de espetacularizar a tragédia alheia. Mais triste ainda é saber que para muitos jornalistas a pior notícia é a melhor notícia. E que, já que a população brasileira tem memória curta, que cada vez mais aconteçam atos de violência explícitos ou, para tirar os requintes de crueldade, no mínimo roubalheiras faraônicas nos congressos da vida.

Um comentário:

Larissa Costa disse...

E pensar que são esses casos que dão audiência...