quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Malditos vídeos

"Mal posso esperar pra chegar em casa e ver isto"

A modernidade trouxe com ela manias terríveis cuja expressão dificilmente conseguimos evitar. Eu, que não sou alheia ao mundo, acabo também com alguns transtornos-obsessivos-compulsivos modernos. Mas há alguns que não fazem nada senão irritar.

Um deles é a maldita mania de se fotografar e filmar tudo. Não me entendam errado: não há nada mais divertido que rever fotos de festas esquecidas ou de encontros casuais com os amigos. Porém, quando deixa-se de viver o momento presente para apreciá-lo posteriormente em fotos e vídeos, a coisa toda perde o sentido. Por algum motivo, a imagem no papel ou em um monitor qualquer parece ter se tornado mais atraente do que aquela que se forma logo diante de nossos olhos.

Na semana passada, tive a oportunidade de ir a um show que tenho esperado há quase dez anos. Nada me tiraria do sério. Oito horas e meia de viagem em um ônibus sem ar-condicionado, fome, falta de dinheiro, cidade desconhecida, ônibus e metrôs - tudo valeria a pena quando pudesse cantar e pular ao som das músicas que eu tanto ouço desde a minha adolescência. E eu pularia, não fossem os milhares de braços que seguravam milhares de câmeras e brigavam por alguns milímetros em frente ao palco. A minha pobre câmera, pendurada no pescoço, ali ficou por quase todo o show, já que era impossível me mexer para pegá-la. A máfia do Youtube - aqueles que filmam cada detalhe de shows para postá-los assim que possível - ocupava toda a grade e deixava os verdadeiros fãs se estabefando por algum espaço logo atrás. Ninguém cantava sequer uma música: o importante era capturar em vídeo os riffs de guitarra.

Eu, fã que sou, tirei algumas poucas fotos. Elas são como uma muleta da memória: me apóio nelas para lembrar de todo o resto - movimentos, músicas e sensações. Cada detalhe que fez daquele momento únicos. Os que perderam todo o tempo filmando, esqueceram de gritar, chorar, dançar, conversar...

Não adianta: fotos e vídeos podem relembrar sentimentos, mas não criá-los.

Um comentário:

Thiago Gabri disse...

Eu adoro minhas muletas...e com certeza são importantissimas pra minhas memorias, mas como vc mesmo disse é bom que eu as tenha primeiro né!