quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Brigitte criou Bardot

Assisti agora ao documentário "Brigitte criou Bardot", que trata da vida da atriz francesa, hoje com 74 anos, e resolvi escrever algumas coisas que me vieram a cabeça durante os 60 minutos que me vi interessada na vida desta mulher, sobre a qual eu pouco sabia.

A primeira coisa que me despertou atenção foi a contraposição constante entre imagens antigas e atuais da atriz e cantora. Parecia uma ininterrupta afirmação de que não é bom envelhecer. Hoje idosa, Brigitte Bardot usa os cabelos presos com pequenos enfeites de flores e ainda pinta os olhos com rímel e sombra: é este o ápice de sua vaidade. Se locomove com muita dificuldade e com ajuda de muletas. Cobre o corpo que foi ícone na década de 60 com roupas pretas e discretas. Mas imagino que não poderíamos esperar que ela fosse hoje a mesma pessoa que era aos 20 e poucos anos. Mesmo porque, ao contrário de algumas outras divas, ela parece aceitar muito calmamente a idade que chega, sem desesperar-se em parecer a mesma que era.

Além disso, não pude parar de pensar no papel que mulheres como ela têm na transformação da imagem feminina. E eu não digo apenas em relação à beleza. Ela era a expressão da sensualidade, mas não se deixou calar por isso - e foi este o motivo da minha reflexão. Tantas outras viveram - e ainda vivem - sob o julgamento único da beleza e expressando-se apenas através dela. Brigitte Bardot, no auge de seu sucesso e, ironicamente, de sua ingenuidade, passou a defender os animais sem nem saber que o estava fazendo. Falou publicamente sobre maus-tratos e sofreu represálias, enquanto outras atrizes viviam em função de dançar e ganhar namorados.

Hoje em dia, reclusa, ela diz que cuidar de animais é o que dá a ela vida. Chora, depois de mais de 40 anos de ativismo, quando fala a respeito de sua obra em defesa dos animais, e afirma categoricamente que a raça humana é nojenta. Reconhece com humildade que é apenas mais uma a lutar por esta causa, dentre outros que o mesmo fazem, porém em silêncio.

Sua imagem frágil de hoje, constrastada à beleza estonteante de antes, vem seguida de uma honestidade quase inocente, o que faz dela um personagem perfeito para um documentário como "Brigitte criou Bardot". Quando perguntada sobre a principal diferença entre a mulher que ela é hoje e que era em sua juventude, ela responde categoricamente: "basta olhar pra mim". Este é um dos vários motivos que fazem dela alguém que desperta atenção - não apenas pela atriz e cantora que foi, mas pela pessoa que é: única, porém semelhante a tantos outros em suas falhas e qualidades.


Um comentário:

Teo Pasquini disse...

Difícil envelhecer sob a sombra de um mito cinematográfico...
mto bom!