Ao ver os novos repórteres no meio da multidão de quase dois milhões de pessoas que disputavam enlouquecidamente um espacinho perto da corda presa à berlinda que carrega a imagem fiquei me perguntando se a fé está ou não ligada à insanidade.
Para àqueles que são, como eu, um tanto céticos para assuntos religiosos, pode até parecer loucura essas pessoas que por um motivo, ainda sem explicações científicas, disputam como um cão que disputa comida, um espaço "mais perto de Deus". Mas quando olhados com uma visão mais subjetiva é possível entendê-los. Os devotos alí presente são, em sua grande maioria, representantes da população da segunda região mais pobre do país. A santa que é carregada alí é a representação material de algo superior capaz de transformar vidas.
Confesso terminar de ver o programa estarrecido com a fé que move aquelas pessoas. Um caminhão denominado carro dos milagres segue a multidão durante toda a procissão. Nele são deixados, pelos fiéis, vários objetos que significam a realização ou a intercessão por um milagre.
No meio da multidão estão ribeirinhos que abandonam suas casas e andam mais de 100 km descalços para pagar uma promessa, ou simplesmente para fazer um pedido quase impossível.
Nessas horas eu tenho orgulho da fé dos brasileiros, fé que as vezes nos bestializa, nos imuniza e que também nos transforma em algo superior à matéria. Fé esta que mostra que diferente da idéia da amiga da Flávia, somos um país riquíssimo culturalmente e que devemos nos orgulhar sim daquele povo que está lá por fé. Talvez para nós, pobres céticos limitados, aqueles homens irracionais sejam mais uns malucos que disputam a tapas um pedacinho de corda. Porém uma coisa é certa, aquela fé que eu vi pela TV dá à vida de muitos nortistas miseráveis o sentido que a gente passa a vida procurando em outras coisas.
2 comentários:
E é essa fé que ainda torna o mundo "vivível". Pq se não houvesse temor em relação a deus, com certeza já teríamos destruído o mundo.
Gostei muito de sua visão do círio. Mas com Belenense, queria fazer umas correções nas sua colocações:
1. A região mais pobre do Brasil é o Nordeste e não a Amazônia (onde se situa Belém);
2. Aquelas pessoas são conhecidas aqui como caboclos e ribeirinhos e não sertanejos.
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