quinta-feira, 28 de agosto de 2008

" Os esquecidos"

No último dia 20, o Tribunal de Justiça voltou a negar o pedido de liberdade do casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, acusados de assassinarem a filha de Alexandre, Isabella Nardoni, 6 anos, arremessada do prédio onde o pai e a madrasta moravam. Da notícia, só fiquei sabendo quando pesquisei na internet. Em todo resto da mídia, nada se houve sobre o caso. Apenas uma pequena nota, vez por outra, nos telejornais.
Caso típico de “fait- divers”, termo criado por Roland Barthes para designar o jornalismo sensacionalista, o caso Isabella caiu no esquecimento, como tantos outros. Suzana Von Richtofen, a moça rica que matou seus pais, permanece presa? O que aconteceu com o assassino do casal Liana e Felipe? E com os parentes das vítimas do Boeing 737-800 da Gol, que caiu em setembro do ano passado?
Vivemos na tão famosa sociedade do espetáculo de Guy Debord, onde tudo que vai pra mídia, vira show. E para virar show, a mídia explora, especula, arregaça o fato em si em busca da audiência. Na era da informação, onde o tempo real foi eliminado, somos bombardeados a todo momento por novas informações do fato e ficamos ali, em frente a TV, alardeados, assistindo a tudo como se fosse realmente um show, um espetáculo. Essa banalização faz com que a gente perca até mesmo a capacidade de nos emocionarmos. Se na vida real Isabella, de carne e osso, foi jogada do prédio uma vez, na vida da mídia, ela foi jogada milhares de vezes, com direito a efeitos especiais.
E assim segue a mídia, até que apareça um fato novo e o outro caia no total esquecimento. Arrisco a dizer que dessa maneira, é até difícil distinguir qual jornal, qual programa de TV é realmente sensacionalista, já que o que vemos é o jornalismo de modo geral explorando a dor alheia. Nós podemos não lembrar de Isabella, mas sua família ainda chora sua perda.
E os exemplos de casos esquecidos pela mídia não se limitam aos crimes. Casos de corrupção política, por exemplo, também são facilmente deixados de lado. Alguém aí ouviu falar algo sobre o “mensalão” nos últimos meses?
Dizem que o povo brasileiro tem memória curta, que esquecem rápido os fatos. Mas segundo o pensador McLuhan, uma sociedade se caracteriza de acordo com os meios de comunicação que possui. Fica então a pergunta: como cobrar dos brasileiros que se lembrem de vários fatos, se os meios de comunicação, esses que estão aqui para nos informar, também enterram fatos pra sempre?

Um comentário:

Thiago Gabri disse...

otimo texto larissa...
muito bom mesmo!
é bom poder ler oq que a gente produz em sala neh!